quarta-feira, 23 de março de 2016

Espelho, espelho meu

No início dos anos 90 o falecido Jornal do Brasil publicava a coluna Perfil do Consumidor. O entrevistado, sempre uma personalidade, tornava públicos seus hábitos. Quando perguntaram a Tim Maia seu vício, ele na lata respondeu “Vicio? Punheta”! Do humorista Bussunda podíamos esperar o inesperado. A torcida do Flamengo (e por que não a do Fluminense, Vasco e Botafogo) vibrou com a memorável resposta a indagação “lugar mais estranho onde já fez amor: São Paulo". A bola entrou onde a coruja faz o ninho. Nelson Rodrigues, outro craque tricolor, já tinha sido cruel com “a pior forma de solidão é a companhia de um paulista”.

Fernando Pessoa, com sua esquizofrenia literária, deve ser o pai da construção da identidade contemporânea. Nos dias de hoje não basta o RG, quem não tem um perfil virtual não existe de fato. Dolores, tadinha, andou arrastando um caminhão por um rapaz por conta da foto dele no messager. Não que ele fosse um Marlon Brando, George Clooney ou James Dean, ou ao menos desse pelota a ela, mas na foto ele apoiava a cabeça na mão e a olhava de frente sempre tão atento que ela se confundiu. Tudo bem, é desculpável, igual gente que dá boa noite para o William Bonner quando termina o Jornal Nacional.

A artista japonesa Yayou Kusama se diz diagnosticada como compulsiva obsessiva. O barato dela são as bolinhas, o nosso lance é a exposição dos muitos e incríveis “eus”.  Facebook, Instagram, Linkedin, Parperfeito, Twitter... Deve haver restado pelo menos um cidadão sensato que esteja saudoso de quando bastava dirigir-se ao DETRAN, tirar uma foto e carimbar o dedão. Mas confesso que fiquei com uma invejinha de G.B. que postou no Tinder a foto de uma empada e lá na meiuca do recheio estava o rosto dela verde, e o texto “Eu posso ser a azeitona da sua empada”. E a ideia desdobrou-se em “Sou o ovo frito da sua marmita”.

No quesito “abalou Bangu” ganharam coraçãozinho um paciente de Suellen chamado de “gás nobre”, porque o nome dele é Hélio, e o motorista da instituição que só anda na elegância das marcas, o “Ostentação”. 


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