quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Cão chupando manga

Tive que operar o meu cachorro salsicha. Descobri que dentro da barriga do "Cruzcredinho", que estava gigante, tinha um caroço de manga. O caroço já estava fazendo aniversário, porque as mangueiras do Parque Guinle deram frutos até fevereiro, como estamos em julho... Lá se foram o verão e uns quatro meses. Divulguei que, infelizmente, estava indo operar um dos últimos machos-espada do pedaço. Pois é, a manga não era Carlotinha! Na noite anterior, CA, uma amiga, falou que não ia trazer a cão-guia dela aqui, porque o pug Zé procurando uma namorada (e ela não quer filhotes sem focinho) e ela (também) não quer que o Quincas plante um pomar na Golden retriever dela. Sogra exigente que é, vai acabar com a filha encalhada, porque, como anuncia uma amiga do mercado financeiro: o mercado não está comprador. Eu, por exemplo, já estou economizando para o dote das minhas duas filhas. Quem poupa tem... genro!

Aí cheguei em casa com o Joacão (outro apelido do Dachshund) no colo e o caroço de manga – a prova do crime – na mão. E... surpresa! Um cano da vizinha do andar de cima tinha rompido e, no nosso corredor, jorrava uma cachoeira. Olha que coisa boa; estar em plena cidade e usufruir das delícias da vida no campo! Só que não!

O porteiro, que costuma ser um sinônimo  de “faz-tudo”, mas no meu prédio é um “faz-nada”, não tomava uma providência. Eu suo a camisa para não conjugar o verbo “irritar” na voz reflexiva. Abre parêntese, inclusive sou uma mulher que deveria valer ouro, porque vim ao mundo sem TPM – fecha parêntese. Todavia, fui obrigada a sair do “modo avião” a fim de que o dito-cujo zelador, que por nada zela, levantasse o traseiro de seu posto – e supostamente tentasse identificar o registro da coluna d´água. Mas ele estava de braços cruzados (bem vi na TV que mostrava a portaria), provavelmente me xingando, o que não posso jurar, uma vez que as câmeras ainda não têm som. Quer dizer, não dá para trocar de roupa no elevador – vai que o porteiro está atento –, mas super rola de soltar um pum (com cara de paisagem, para não se denunciar), fazer confidências ou pronunciar palavras de baixo calão, porque o cinema é mudo no térreo.

Quem diria que nosso edifício Dalton, com ares modernistas, construído na década de 1960 pelo escritório de arquitetura dos Irmãos MMM Roberto, já é parte do futuro profetizado pelo romance Admirável Mundo Novo, com câmeras espalhadas por todos os cantos que tudo registram, mas ainda tem um elevador social que funciona dia sim, dia não. 

Depois voltei ao meliante, que havia ingerido o objeto agora identificado e confirmado. A batalha do dia ainda estava em curso, havia mais tarefas a serem vencidas. Com um certo malabarismo, optei por vestir o Quim com uma fralda de bebê – fazendo um buraco para o rabo –, porque fralda canina não é vendida na esquina. Tanta Drogaria Pacheco por aí (acho até que valendo mais comprar ações da farmácia do que da Petrobras), e nenhum visionário ainda pensou em abrir uma versão Pacheco´s Pet 24 horas... Fica a dica!

Bem, nesse dia que não terminava, ainda assisti, na sala democrática, à epopeia do NETFLIX. Em outras palavras, já inventaram controle remoto, wi-fi que pega até na banheira, programas que baixam filmes nos tablets, e amanhã vai dar para ver filmes até no relógio, mas as brigas pelo sofá continuam. Quem tem uma família em que não se escuta a frase “Pedi primeiro!”? Esse é um prazer dos celibatários convictos que ouviram a voz da razão e não só não casaram, como não procriaram. Mas, sinceramente, vou entregar os pontos e entrar nesse mérito em outro momento – ah, tou sempre adiando as coisas.

Sabe aquelas horas em que você não sabe se hasteia a bandeira branca ou se tem um acesso de riso? Até porque chorar não adianta... Bem... C'est la vie, que nem sempre é La vie en rose.



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